A PRESSÃO DA MASSA ELETRÔNICA.
O presidente de sua empresa tem posições morais e políticas muito conservadoras. Reluta em promover mulheres porque não confia na capacidade delas e faz comentários sexistas com frequência. Vive reclamando que o problema do país é o “excesso” de democracia. E por aí vai. Seus comentários causam grande desconforto, mas enquanto ficam circunscritos dentro dos muros da empresa não causam problema. Mas um determinado dia, a coisa escapa do controle.
Vaza um e-mail em que ele revela ter feito uma doação em dinheiro para uma organização contra o casamento gay. Foi uma atitude pessoal, feita com dinheiro próprio. Mas ainda assim a empresa começa a ser detonada em todas as mídias sociais. Rapidamente a coisa vira viral. Um grupo simpático ao casamento de pessoas do mesmo sexo sugere um boicote contra os produtos da empresa. O tema chega na TV, em cadeia nacional. E depois de vários dias no noticiário e, num determinado momento, o chefão se vê obrigado a pedir demissão. A marca fica abalada e a empresa perde mercado.
Por mais criticável que possa ser a posição do chefão descrito acima, ele – enquanto indivíduo - não deveria ser obrigado a apoiar algo com o que ele não concorda. E ninguém deve ter desrespeitado o direito de expressar e defender suas opiniões. Todo mundo tem o direito de pensar o que quiser. A intolerância pode ser terrível e prejudicial a todos. O que hoje é criticável pode não o ser amanhã. E há temas naturalmente polêmicos. Religiões, por exemplo. Ou posicionamentos políticos.
Mas o hipotético caso aponta para uma questão preocupante: as redes sociais são hoje um tremendo instrumento de pressão social, comandado pela massa anônima, ao sabor das ondas de opinião. E a situação é preocupante para quem trabalha com comunicação porque desnuda e amplifica um dilema ético. Até que ponto a reputação de uma empresa, para se “acomodar” diante de uma opinião externa prevalecente, deve se sobrepor às convicções pessoais de uma pessoa?
Uma questão a ser analisada com cuidado.
* Marco Piquini - piquini@tresmeiazero.com.br - é jornalista, consultor e palestrante. Trabalha com a comunicação para a gestão de mudança. Foi durante 20 anos executivo do Grupo Fiat e entre 2007 e 2012 diretor de Comunicação da Iveco para a América Latina, com responsabilidade sobre comunicação interna, externa, publicidade, eventos e sustentabilidade.
Visite: tresmeiazero.com.br.
* Marco Piquini - piquini@tresmeiazero.com.br - é jornalista, consultor e palestrante. Trabalha com a comunicação para a gestão de mudança. Foi durante 20 anos executivo do Grupo Fiat e entre 2007 e 2012 diretor de Comunicação da Iveco para a América Latina, com responsabilidade sobre comunicação interna, externa, publicidade, eventos e sustentabilidade.
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